quarta-feira, 3 de junho de 2009

O sotaque do porto-alegrense afetado


Finalmente descobri quem é o dono do sotaque porto-alegrense afetado. Sempre tive curiosidade de descobri-lo e fazer uma caracterização sua. Mas minha busca ia por caminhos errôneos. Uma delas foi localizá-lo geograficamente. Comecei pensando que era da Zona Sul, por causa de um ex-colega gordinho do bairro Cristal. Porém, esta resposta não procede porque é notório que porto-alegrenses de outros bairros falam daquele jeito.

Vocês devem estar curiosos para saber que tipo de sotaque é este. Pois bem, o exemplo máximo é o do colunista Tatata Pimentel. Aliás, o jornalismo da capital é um reduto concentradíssimo deste sotaque. E principalmente o do Grupo RBS. Escutem a Rádio Atlântida e TVCom. Saberão do que estou falando. Até posso citar especificamente alguns comunicadores: Rodaika, Fetter, Potter, Mano Changes,... Sim, qualquer similaridade com o Magro do Bonfa não é mero acaso.

Sou gaúcho procedente do interior. De Passo Fundo. No interior pensamos que o sotaque característico do “capitalista” é esse mencionado, que chega à casa das pessoas. Mas vindo morar na capital a gente descobre que não é bem assim, só uma minoria articula daquela forma.

Nesta semana, contudo, no setor do meu serviço (onde sou rodeado de porto-alegrenses natos), numa conversa-esclarecimento com a colega Bibiana da Zona Sul, veio luz a minha dúvida. Fiat lux! O sotaque afetado está associado à classe social de renda média-alta. São moradores de bairros nobres, seja Sul ou Norte. São pessoas bem de vida, que compartilham basicamente os mesmos valores, ideais e hábitos. Seus filhos estudam nos colégios caros da capital. A explicação para o modo de falar uniforme nesta classe talvez seja a própria criação nesses colégios, e também seu acesso às mesmas mídias. E são consumidores dos produtos anunciados nessas mídias. Os produtos são tênis, celular, mp3, disco, show, roupa/loja, refrigerante. Tudo da moda. As mídias são Kzuka, Rádio/Planeta Atlântida, Rádios Ipanema e Pop Rock, Anonymus. Citando apenas alguns, evidentemente.

Não faço idéia de quando surgiu tal ridículo sotaque, mas penso que é um bom tema de pesquisa. Talvez tenha surgido como uma tentativa de marcar/mostrar certo gauchismo no falar, já que diferente do interior o sotaque na capital seria menos proeminente. De qualquer forma, é muita “forçação”. Tenho uma prima do interior que nunca morou em Porto Alegre, mas sempre falou como uma porto-alegrense desse tipo.

A esse jeito forçado de falar eu chamarei de “o sotaque do porto-alegrense afetado”!

domingo, 1 de março de 2009

A bela e a fera?




Um ser é composto de qualidades e defeitos. Mas as características não são absolutas. A beleza depende de quem a vê. A inteligência, do que está sendo avaliado.

Os Almanaques Zodiacais costumam fazer a dicotomia entre virtudes e defeitos: ambição, ousadia, orgulho, valentia, covardia, extroversão, introversão,... Mas eu pergunto, até onde vai a vantagem ou desvantagem de cada um?

A valentia pode ser burrice na medida em que torna vulnerável. A riqueza desperta a cobiça alheia. A beleza desperta a inveja. O bom é relativo. Tudo depende do contexto. Algumas espécies de aparência frágil evoluíram porque o ambiente (contexto) lhes permitiu.

A afinidade entre seres não é oriunda de uma busca exclusiva por beleza, inteligência ou força, seja na relação entre pessoas ou entre cães e donos.

Já ouvi um amigo falar: “Aquela moça é muito bonita, mas eu não agüentaria um namoro com ela, porque é muito burra”. Porém, ele não se dá conta de que o importante é a afinidade e não uma mera questão de inteligência. O conjunto de atributos, incluindo a ignorância, pode ser atrativo. É o que chamam de “química” e “lance de pele”. Ele só estará desculpado se sua ignorância lhe for repulsiva, se o convívio com a moça não lhe for agradável. A menos que tenha outras intenções...

A gravura acima retrata a conquista de uma garota por um menino “culto”, leitor de jornais e livros, enquanto o seu companheiro supostamente inculto fica segurando vela. Entretanto, é perfeitamente cabível que na realidade – fora dos desenhos – aquele mesmo menino estivesse chateando a moça com um papo prolixo (várias linhas ininterruptas), gabando-se da própria sabedoria, repassando coisas que leu a recém. Há muitos desses tipos por aí. O verdadeiro culto é breve e direto em conversas informais.

Também está contido dentro do “conjunto de atributos” fatores extrínsecos, como a conta bancária, carro, poder e status, sobretudo para atração do sexo feminino.

Muitos feios não se consideram tal e são felizes! Logicamente porque são “feios” para mim, um ponto de vista! Se não, por que tantos deles estariam casados? Já comentei em postagem anterior que “quem ama a feiúra é porque bonito lhe parece”.

A propósito, lembro de uma antiga reportagem do jornalista Pedro Bial, da Rede Globo, sobre a divulgação das primeiras filmagens coloridas de Adolf Hitler. Para desqualificá-lo, Bial chamou-o de baixinho, de feio, entre outros adjetivos. Boa parte da audiência deve ter-se sentido ofendida.