
Finalmente descobri quem é o dono do sotaque porto-alegrense afetado. Sempre tive curiosidade de descobri-lo e fazer uma caracterização sua. Mas minha busca ia por caminhos errôneos. Uma delas foi localizá-lo geograficamente. Comecei pensando que era da Zona Sul, por causa de um ex-colega gordinho do bairro Cristal. Porém, esta resposta não procede porque é notório que porto-alegrenses de outros bairros falam daquele jeito.
Vocês devem estar curiosos para saber que tipo de sotaque é este. Pois bem, o exemplo máximo é o do colunista Tatata Pimentel. Aliás, o jornalismo da capital é um reduto concentradíssimo deste sotaque. E principalmente o do Grupo RBS. Escutem a Rádio Atlântida e TVCom. Saberão do que estou falando. Até posso citar especificamente alguns comunicadores: Rodaika, Fetter, Potter, Mano Changes,... Sim, qualquer similaridade com o Magro do Bonfa não é mero acaso.
Sou gaúcho procedente do interior. De Passo Fundo. No interior pensamos que o sotaque característico do “capitalista” é esse mencionado, que chega à casa das pessoas. Mas vindo morar na capital a gente descobre que não é bem assim, só uma minoria articula daquela forma.
Nesta semana, contudo, no setor do meu serviço (onde sou rodeado de porto-alegrenses natos), numa conversa-esclarecimento com a colega Bibiana da Zona Sul, veio luz a minha dúvida. Fiat lux! O sotaque afetado está associado à classe social de renda média-alta. São moradores de bairros nobres, seja Sul ou Norte. São pessoas bem de vida, que compartilham basicamente os mesmos valores, ideais e hábitos. Seus filhos estudam nos colégios caros da capital. A explicação para o modo de falar uniforme nesta classe talvez seja a própria criação nesses colégios, e também seu acesso às mesmas mídias. E são consumidores dos produtos anunciados nessas mídias. Os produtos são tênis, celular, mp3, disco, show, roupa/loja, refrigerante. Tudo da moda. As mídias são Kzuka, Rádio/Planeta Atlântida, Rádios Ipanema e Pop Rock, Anonymus. Citando apenas alguns, evidentemente.
Não faço idéia de quando surgiu tal ridículo sotaque, mas penso que é um bom tema de pesquisa. Talvez tenha surgido como uma tentativa de marcar/mostrar certo gauchismo no falar, já que diferente do interior o sotaque na capital seria menos proeminente. De qualquer forma, é muita “forçação”. Tenho uma prima do interior que nunca morou em Porto Alegre, mas sempre falou como uma porto-alegrense desse tipo.
A esse jeito forçado de falar eu chamarei de “o sotaque do porto-alegrense afetado”!